Brasileiro inventor do spray compra briga com Fifa por reconhecimento e R$ 110 mi

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Heine Allemagne acusa entidade que regula o futebol mundial de desrespeitar patente e pede para que uso da tecnologia seja suspenso em todas as competições: “Eu sou Davi, e a Fifa é Golias”

O inventor do spray utilizado pelos árbitros de futebol para demarcar, por exemplo, a região em que uma falta deve ser cobrada ou o limite da barreira, Heine Allemagne promete levar até o fim uma briga com a Fifa que o próprio define como “Davi contra Golias”. O brasileiro de 46 anos pede, em suma, o reconhecimento pela invenção da tecnologia e US$ 35 milhões, o equivalente a R$ 110 milhões.
Heine enviou, na última terça-feira, uma notificação à Fifa, à International Football Association Board (IFAB, organização responsável pelas regras do jogo) e a todas as confederações (Uefa, Concacaf, Conmebol, AFC e OFC). O documento, cuja íntegra está no fim da matéria, requer a suspensão do uso da tecnologia em todas as competições. Procurada pela equipe de reportagem do GloboEsporte.com, a Fifa não respondeu até a noite desta quarta.
– Eu estou pedindo respeito. A Fifa não me deu os créditos pelo spray. Eles haviam feito várias promessas, nos usaram, assumiram comercialmente o projeto a partir de 2008. Depois disso, fizeram uma conspiração gigantesca, coisas absurdas. O que eu estou fazendo? Eu sou o Davi, e a Fifa é o Golias. A Fifa ameaçou me processar. Eu fiz história no futebol mundial, e a Fifa, de forma caluniosa, ameaçou me processar. Como brasileiro, você sabe como nós somos, a gente joga futebol. Eu vou ter que jogar futebol com a Fifa – declarou Heine, por telefone.
De fato, Heine Allemagne é dono da patente registrada no Instituto Nacional da Propriedade Insdustrial (INPI) da “composição espumosa em spray para demarcar e limitar distância regulamentares nos esportes”. A concessão, sob o número PI0004962-0, foi dada a ele em fevereiro de 2010.
O spray foi utilizado pela primeira vez por uma equipe de arbitragem na Taça Belo Horizonte de 2000. Dois anos depois, acabou sendo adotado pela CBF em competições oficiais – o Brasil é, portanto, o pioneiro da tecnologia. Em 2009, surgiu na Libertadores da América e, em 2013, passou a ser testado na Fifa. A Copa do Mundo do Brasil em 2014 foi a primeira a ter árbitros com o equipamento.
Segundo Heine, o objetivo inicial do projeto era ajudar a desenvolver o futebol, com a recompensa financeira em segundo plano. Tanto é que os primeiros cilindros de spray testados pela Fifa, incluindo os utilizados na Copa de 2014, foram doados por ele.
– A Fifa disse que, depois da Copa, ia comprar o projeto. Depois da Copa, ela sentou com todas as empresas, eles analisaram o impacto comercial da invenção e, no fim, decidiram me roubar. É isso, um roubo, um sequestro – se queixa o brasileiro, que tem o segundo grau incompleto e diz sobreviver de invenções.
Em entrevista ao site “Uol” em julho de 2014, antes do fim da Copa do Mundo, Heine havia revelado o objetivo de vender o projeto à Fifa. “Ela tem que levar isso adiante”, disse ele na ocasião.

Créditos a outra empresa
Heine Allemagne se diz chateado principalmente pelo fato de nunca ter sido mencionado pela Fifa como inventor do spray. Em vez disso, a entidade entregou os créditos à empresa “PPG Comex”, de Pittsburgh, Estados Unidos – uma das patrocinadoras da Copa América Centenário no ano passado.
Em um comunicado divulgado pouco antes da competição realizada nos EUA, o CEO da empresa se disse feliz por ajudar o esporte.

– A PPG Comex trabalhou duro por muitos anos para engrandecer o futebol através do desenvolvimento de ferramentas que ajudam o trabalho dos árbitros. Assim foi o caso do spray Comex Futline que será usado nesse torneio pela primeira vez – declarou Marcos Achar na ocasião.
– Eles estão ignorando as denúncias que estou mostrando para eles, a Fifa mandou muito mal conosco, conspiraram. Nós inventamos, e ela entregou a patente a uma multinacional. Mas esse é um spray já patenteado, uma ideia conduzida constitucionalmente – lembrou o brasileiro.
“A Fifa profanou o livro da regra”
Heine define a relutância da Fifa como uma “conspiração”. Uma anomalia no livro de regras da temporada 2017/18 publicado recentemente pela IFAB, segundo ele, é um dos maiores indicadores.
– A Fifa profanou o livro da regra, ela está boicotando esse projeto, querem matar. Por que colocaram o desenvolvimento do spray somente no livro de regras em espanhol e não nas demais línguas? – denuncia ele.
De fato, o item 5 do livro de regras (que esclarece as responsabilidades do árbitro numa partida de futebol) em espanhol define o spray como equipamento da arbitragem. Em outras línguas, no entanto, a ferramenta não é citada.

Apesar de descrente, Heine acredita que o próximo passo é aguardar uma resposta da Fifa para, só então, se for necessário, dar início aos processos judiciais.
– Vou começar um debate moral com a Fifa. Eu mandei essa notificação para que a gente possa sentar e conversar como gente adulta. Se eles não quiserem e continuarem insistindo nisso, vou para as ações legais, que é o bloqueio de bens e tudo que é plausível dentro da justiça. Eles vão perder. Aqui nós sabemos como jogar futebol, e eu vou jogar futebol com a Fifa. Se não entrar o dinheiro, não faz tanta diferença. É óbvio que eu preciso, mas não faz diferença. Isso só não vai continuar do jeito que a Fifa acha que é – encerrou ele.

Fonte: Tébaro Schmidt em Futebol Internacional – http://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/brasileiro-inventor-do-spray-compra-briga-com-fifa-por-reconhecimento-e-r-110-mi.ghtml

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