Residentes no Brasil apresentam 10% dos pedidos de patentes de IA depositados no país

Apenas 10% dos pedidos de patentes envolvendo tecnologia de inteligência artificial (IA) para máquinas e equipamentos no Brasil são apresentados por residentes no país – e a maior parte é de universidades. A área médica lidera os pedidos entre empresas e instituições domiciliadas no país. Dos outros 90% de registros solicitados no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI), entre 2001 e 2019, a maior parte é de empresas norte-americanas, mas países como Japão, França e Alemanha também se destacam e setores como transportes, automotivo, tecnologia da informação e saúde se sobressaem.

As conclusões estão em estudo feito em uma parceria da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), INPI e Ministério da Economia, no âmbito do Núcleo de Inteligência em Propriedade Intelectual, que avaliou um conjunto de 5,6 mil pedidos. O levantamento, antecipado ao JOTA, mostra que o país tem experimentado nos últimos anos uma aceleração no registro de patentes nessa área de inteligência artificial em máquinas, embora ela represente ainda pouco mais de 20% do total de registros de invenções e inovações no país.

“Apesar dos residentes do Brasil estarem em segundo lugar [olhando os países individualmente], eles contemplam apenas 10% dessas invenções, o que quer dizer que empresas de fora estão vindo registrar suas invenções aqui e conseguindo exclusividade de mercado, e são responsáveis por quase 90% da amostra”, salientou Cristina D’Urso, Chefe da Divisão de Estudos e Projetos do INPI e uma das autoras do material.

Entre os dez maiores residentes que pediram o registro de patente, seis são universidades públicas. A Unicamp apareceu em primeiro lugar, com 29 pedidos. Samsung Eletrônica da Amazonia Ltda, com 21; Embraer S.A, com 16 aparecem na sequência. Isso indica que há uma lacuna de participação das empresas brasileiras no desenvolvimento e patenteamentos de tecnologias de máquinas e equipamentos com IA embarcada.

“Isso demonstra também a oportunidade de se trabalhar a transferência tecnológica e de se buscar parcerias para desenvolvimento conjunto entre empresas e universidades brasileiras nessa área”, avalia Rogerio Araújo Dias, Analista de Produtividade e Inovação da ABDI. “Há grande espaço de conquista nesse campo de tecnologia. Avançamos muito nos últimos anos, mas há grande trabalho à frente”, completou, destacando que é uma questão que não afeta só alguns setores, como saúde, mas também toda a economia.

Entre os não residentes, há uma predominância de empresas como a Nissan, Scania e Boeing, as três do setor de transportes, no registro desse tipo de patente no Brasil.

Cristina D´Urso reforça que o levantamento mostra que há muito espaço para se avançar no segmento de invenções e inovações por empresas sediadas no Brasil. Ela lembra que, nos países mais avançados no setor industrial, os depósitos de patentes são majoritariamente de residentes. “Nos Estados Unidos, patentes depositadas lá são em maioria americanas. Na China, da mesma forma. O ideal seria que a maioria fosse brasileira”, afirmou Cristina.

Dias acrescentou que o depósito de patente por estrangeiros também é positivo porque indica estar havendo difusão de tecnologia no país, que pode incentivar outros elos da cadeia produtiva.

Felipe Machado, coordenador de economia 4.0 do Ministério da Economia, disse que o estudo reforça a importância e a necessidade de se avançar em políticas para acelerar o desenvolvimento de tecnologias localmente.

“Sem dúvida nenhuma esse estudo nos faz pensar bastante e nos traz informações bem concretas sobre a evolução da situação em termos de inteligência internacional”, disse, apontando que a implementação das redes 5G no Brasil pode ser um caminho para acelerar inovações locais nessa área.

POR FABIO GRANER


Fonte: JOTA

Postagens Recentes

Comece a digitar e pressione Enter para pesquisar

WhatsApp chat